quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A (R)Evolução(?) Machista - Danny Marks



Me corrijam os historiadores ou os psicólogos se estiver errado, mas o Machismo nasceu quando Freud declarou implicitamente nos seus textos que havia uma psicologia Feminina. Antes disso considerava-se apenas uma forma psicológica, a masculina e suas variantes.
Freud foi além, declarou que havia duas variantes do psiquismo que se complementavam e formavam os alicerces da personalidade humana, o Feminino e o Masculino. Foi uma verdadeira revolução, questionando valores arraigados, enraizados, defendidos com unhas, dentes e armas há séculos. Então, havia uma parcela do Feminino na personalidade do homem, bem como uma parcela do Masculino na mulher?
Muitos dos conceitos apresentados por Freud foram questionados, uma boa parte serviu de base para estudos posteriores e tornaram possível a evolução do conhecimento da psicologia, que nos tempos atuais alcança as mais diversas formas e se insinua na cultura popular.
Feministas e especialistas podem gritar que estou errado. Que o Feminismo nasceu muito antes de Freud, mais especificamente na Revolução Francesa (1789) e que teve seu primeiro lance histórico com a célebre declaração de Olímpia de Gouges que proclamou que a mulher possuía direitos naturais idênticos aos dos homens e que por essa razão tinha direito de participar da formulação das leis e da política em geral; isso nos idos de 1791.
Ok, não vou questionar isso, aliás, concordo plenamente com Olímpia, mas revejam o início do texto. Declarei que, na minha visão pessoal, o Machismo nasceu com Freud ao declarar que, sim, a mulher tinha uma psicologia diferente e que havia um conceito chamado Feminino presente na personalidade de homens e mulheres. Note que isso remete diretamente ao que Olímpia declarava: “direitos naturais idênticos” (não iguais, diga-se de passagem).
Mas o que vem a ser o Feminino afinal? Em termos gerais representa a característica de sociabilidade, de cuidar do outro mesmo em detrimento próprio, de sensibilidade e empatia com o sofrimento alheio, de suavidade apaziguadora, de acolhimento, de juntar, de encontrar a beleza na delicadeza, a busca da permanência, entre outras coisas sempre creditadas especificamente à mulher.
Pela mesma linha de raciocínio o Masculino é o protetor contra a adversidade, a força motriz que modifica e transforma, o provedor dos recursos, o conquistador de novos espaços, a força da sobrevivência que move a espécie em detrimento do indivíduo, a energia implacável que nos faz avançar sempre em busca de algo melhor e maior, a liderança; características normalmente creditadas ao homem.
Freud de certa forma disse que ambos os conceitos estão em maior ou menor grau em todas as pessoas. Portanto mulheres poderiam ser líderes e guerreiras e homens poderiam ser sensíveis, cuidadores e apreciadores da delicadeza apaziguadora. A personalidade se formaria a partir desses pilares sendo influenciada mais para um lado ou para outro, e assim estaria explicada a existência tanto do Poeta quanto da Desbravadora, por exemplo.
Mas isso é, obviamente em formas gerais, a formação de uma personalidade saudável, e sabemos que a regra geral é outra, somos todos em maior ou menor grau, insanos. E é nessa insanidade que nascem as variantes destrutivas do Masculino e do Feminino: o Machismo e o Feminismo.
Jung, outro pesquisador do psiquismo humano, contemporâneo e amigo pessoal de Freud, falava sobre uma característica estranha da personalidade, a Sombra. Esta seria uma variante negativa de tudo o que nossa mente poderia produzir de bom, um contraponto que gerava equilíbrio, mas que poderia se tornar forte e destruir completamente a psique.
Esse é um ponto interessante, consideremos que equilíbrio não significa estagnação, ainda mais em sistemas dinâmicos como a mente humana, que estão sempre se transformando. Então o equilíbrio ocorre em uma faixa estreita, dinâmica, em que hora tendemos para um lado, hora para outro. Ser “equilibrado” é, em última análise (sem trocadilhos), permanecer nessa faixa estreita entre a parte boa do nosso psiquismo e sua necessária sombra que nos questiona e nos puxa para o lado oposto e precisa ser constantemente reabsorvida e incorporada no chamado crescimento.
E quando isso não ocorre? Aí tendemos ao radicalismo, caímos com maior força e velocidade no “lado negro da força”, para usar um termo atual bem difundido e não tão bem compreendido. Passamos a usar a energia que nos move de forma totalmente tendenciosa e negativa.
Se nossa personalidade se apoia mais na influência do Feminino, tendemos a ser passivos demais, depressivos, estagnados, derrotistas, manipuláveis, autodestrutivos. Se nossa personalidade se apoia mais na influência do Masculino, tendemos a ser agressivos demais, manipuladores, paranoicos, destrutivos, intolerantes.
Mas como isso ocorre afinal? Difícil dizer, existem vários fatores que podem, durante a evolução da personalidade, influenciar negativamente esse processo impedindo um crescimento saudável. E é nesse ponto que baseio o meu argumento apresentado pelo título.
A sociedade como um organismo complexo também possui um “psiquismo”, se podemos chamar assim, e se alimenta das mesmas bases que formam a personalidade individual, com a diferença de que é um compósito gerado a partir dessas personalidades individuais e suas formas de atuação.
Os especialistas devem ficar furiosos com as minhas colocações mais simples sobre temas tão complexos que apresentei até aqui, mas o meu campo de estudo é a literatura e, portanto, me permito uma licença poética nesse sentido ao apresenta-los como um convite a uma reflexão e aprofundamento quando houver interesse particular. Por isso que me permiti usar os termos “revolução” e “evolução” em relação ao “Machismo”.
A revolução, ao meu ver, está na forma como a sociedade está se comportando, questionando avanços humanísticos arduamente conquistados, radicalizando tanto na forma intelectual quanto na intervenção concreta. Nunca tivemos tanta violência tanto nas palavras quanto nas formas de agir. E não estou falando só de governos, estou falando das pessoas em geral.
Revolução negativa, neste caso, onde tenta se impor a força conceitos separatistas. O retrocesso a tempos e argumentos ultrapassados em que havia a lógica do dominador sobre o dominado, a exclusão, o poder conquistador da força sobre o conquistado que se torna servil e resignado.
Evolução porque o dinamismo mental cresce, ainda que seja na sua forma mais deformada e autodestrutiva. A evolução de uma doença leva necessariamente a morte. Evoluir também tem seu lado negativo, a sua sombra.
O Feminismo poderia nos salvar? Creio que não, infelizmente. Até porque de certa forma, difusa, ele é apenas uma variante feminina do Machismo. Muda o sexo, mas não a sua forma destrutiva do Masculino negativo, até porque é no Masculino que está a força para a mudança, ainda que seja para pior.
Feministas devem reclamar deste último parágrafo, mas deixem-me esclarecer. O Feminismo se perdeu nos primórdios ao assumir formas masculinas de agir, deixou de ser Feminino, deixou de ter uma resistência pacífica e apaziguadora, uma transformação pela razão, pela lógica, pela flexibilidade, pela não-agressão. Ao meu ver o maior representante do Feminismo primordial verdadeiramente falando foi um homem, Gandhi. Vejam a diferença e reflitam.
Um mundo Machista é polarizado, reduzido a dois extremos conflituosos, excludente, doente. E a ele se alia a sua versão de gênero, o Feminismo que também caminha a passos largos para se tornar tão radical e doente quanto.
Precisamos urgentemente curar esse mundo que não superou o seu édipo, que ainda divide entre “nós” ou “eles”, que renega a multiplicidade dos gêneros e reduz ao extremo da dureza implacável os conceitos que nos permitiram crescer como humanidade.
Me corrijam os especialistas, mas a minha interpretação é de que o Machismo (e o Feminismo) da atualidade, nada mais é do que a incapacidade da nossa sociedade de superar o seu édipo e crescer para sua forma mais saudável que incorpora o Masculino e o Feminino como forças complementares e necessárias da nossa evolução como indivíduos e como entidade coletiva.
Diante de tantas neuroses e histerias que vemos diariamente em todos os lugares só posso finalizar de uma forma este texto.
Que FREUD nos ajude!

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